Uma das mais renomadas instituições de pesquisa e desenvolvimento do setor coureiro do mundo, o Centro Tecnológico (CT) do Couro/Senai, em Estância Velha/RS, foi palco para a 3ª edição do Fórum Ambiental do Setor Couro. O evento, que lotou o auditório do CT do Couro, ocorreu nesta quinta-feira (8 de junho) e contou com palestras e debates sobre a sustentabilidade na produção dos curtumes.
A diretora do CT, Darlene Rodrigues, lembrou as ações da instituição de cunho ambiental, salientando todo o trabalho de pesquisa para diminuir o impacto da atividade no meio ambiente e a conscientização dos alunos da escola. O presidente da Associação Brasileira dos Químicos e Técnicos da Indústria do Couro (Abqtic), Roberto Kamelmann, lembrou que a profissão dos técnicos químicos é intimamente ligada ao setor ambiental, pois tem a função intrínseca de transformar os resíduos da atividade da produção de carne em lucro através dos tratamentos. "Somos agentes ambientais muito importantes", frisou. Ele disse, ainda, que as legislações ambientais do mundo inteiro vem aumentando o cerco à atividade do setor, o que aumenta a relevância de trabalhos focados na sustentabilidade de toda a cadeia.
O presidente-executivo da Associação das Indústrias de Curtume do Rio Grande do Sul (AICSul), Moacir Berger, por sua vez, elogiou a iniciativa do Fórum, ressaltando o trabalho de cunho ambiental feito pela entidade junto aos associados, reconhecida nacionalmente como um exemplo para o setor. O secretário de Meio Ambiente de Estância Velha, salientou a importância da Semana do Meio Ambiente de Estância Velha, da qual o evento faz parte. "Vejo um avanço muito grande na questão ambiental desde que iniciei meu contato com o setor, na década de 90", disse, lembrando que, assim como muitos profissionais ligados ao setor, "é um filho do CT". A primeira palestra da noite foi da equipe técnica do Couros Bom Retiro (Teutônia/RS), através dos profissionais Eduardo Koefender, Amanda Vivian e Pâmela Marie Fritch. Sob o tema 'Consciência ambiental: reutilização de banhos e otimização de processos de ribeira e recurtimento', os técnicos explicaram como são realizados os processos que culminam num reaproveitamento integral da água utilizada pelo curtume, sendo que 45% de água é limpa e o restante reutilizada em outras atividades dentro da empresa, desde lavagem de piso até outros banhos.
Amanda explicou que o trabalho, além de exigir uma infraestrutura especial, precisa do engajamento de todos os funcionários, o que foi conseguido através de cursos de capacitação. "Tivemos que ter o entendimento do todo, fazendo o elo entre a estação de tratamento de efluentes e a produção", comentou Koefender. Pâmela frisou que, com os processos, a redução da oferta de compostos nitrogenados ficou em 56%, o que é muito relevante para o setor. Segundo ela, existiu uma resistência muito grande no início dos trabalhos, pois "é mais fácil simplesmente ligar a torneira e trabalhar com água limpa". Ela disse que, no entanto, foi preciso criar uma cultura de conscientização com os funcionários, o que foi fundamental para o sucesso do empreendimento.
Lisiane Metz, técnica em desenvolvimento e professora do CT, foi a segunda palestrante. A profissional falou sobre 'O impacto da política nacional de resíduos sólidos do setor couro' lembrando que, o que antes era uma demanda da Fepam em âmbito estadual, hoje é obrigação em nível nacional passível de fiscalização com base na regulamentação do Governo Federal de dezembro de 2010. Lisiane ressaltou que o uso da água, o lançamento correto dos efluentes, o armazenamento dos resíduos sólidos aproveitáveis e as emissões atmosféricas fazem parte do plano que toda empresa deve ter, com o objetivo da redução ou reutilização dos resíduos.
Ela lembrou que resíduos sólidos industriais são todos os produtos não aproveitados na atividade primária. "Temos que diferenciar o conceito de resíduo e rejeito. O resíduo pode ser reaproveitado, enquanto o último não pode, mesmo depois de esgotadas todas as possibilidades de reciclagem. Esse deve ter o destino adequado", explicou.
Lisiane aproveitou a oportunidade para lançar um desafio aos empresários, para que eles olhem seus contêineres antes do descarte dos materiais e vejam se é mesmo rejeito ou pode ser reaproveitado. "Quem ainda não tem plano de resíduos sólidos terá que fazer através de documentação que define procedimentos que minimizam os resíduos, bem como o que é reaproveitado, tudo isso detalhado nas etapas da operação", alertou a professora, lembrando que resíduo é gerado em todos os departamentos - refeitório, laborário, administração, etc... - não somente na atividade produtiva final.
O final do evento foi brindado com a palestra do vice-presidente da unidade de Negócios Couro da Lanxess e presidente da Comissão de Pesquisa da IULTCS (União Internacional das Sociedades de Químicos e Técnicos do Couro, sigla em inglês), Dietrich Tegtmeyer. Ele alertou para a urgência de se utilizar materiais químicos que fiquem no couro - atualmente uma média de 40% dos produtos permanecem na pele deopis dos tratamentos - e que não se tornem rejeitos que possam contaminar o solo. "Do meu ponto de vista, quanto menos produtos químicos puderem ser utilizados melhor para o meio ambiente", disse.
O petroléo também foi alvo do palestrante, que lembrou que cada litro do combustível fóssil queimado provoca a emissão de 2,6 litros de CO2. "Precisamos encontrar fontes alternativas ao petróleo urgentemente", frisou. O profissional disse, ainda, que a imagem do setor coureiro está abalada no mundo, o que é muito culpa de notícias falsas espalhadas na rede. "As coisas boas, a evolução do setor acaba não sendo mostrada", lamentou Tegtmeyer, ressaltando o avanço do setor em todos os países do mundo."Só jogar curtume no 'Google images' e vocês vão ver a imagem do setor em nível mundial", disse. O pesquisador apontou que a produção de couros com cromo, muitas vezes, pode ser mais sustentável do que a com curtimentos vegetais, pois necessita de menos químicos no processo.
A iniciativa, que fez parte da programação da Semana do Meio Ambiente de Estância Velha, contou com o apoio do CT do Couro/Senai, Abqtic, AICSul, Prefeitura de Estância Velha, Fundacouro e Lanxess.
Fonte: www.exclusivo.com.br
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